terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Margem minha


Meu pai era um nadador e tanto. Para o corpo e rosto peludos, se desenvolvia muito bem, especialmente em correntezas. Para pular na água, principalmente depois de almoçar e quando havia sol alto, persignava o "molha sempre a nuca e os pulsos antes de entrar" e pulava, flecha ombruda, de ponta. Submergia e aparecia em algum ponto destoado da lâmina, flor eriçada d'água, cabelo no olho e gotas na barba. Bufava, libertando os pulmões do ar, com grande alarme, e tampava a bracejar, com não maior silêncio. Eram três moleques: O Pirapitinga, meu pai e eu. Trifonte da juventude, numa estampa cuja perspectiva está em meus olhos, pessoal e intransferível santíssima trindade. Há dois anos que o Pirapitinga se secou de meu pai. Hoje, só há uma margem no rio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pirapitinga não se secou dele. Vide Big Fish. Virou lenda. Peixe sagrado.
Thatiana C.