terça-feira, 17 de abril de 2012

Abril

Dispo-me da nudez perfeita
dos erros.
Sou inteiro, mais uma vez,
ao abraço balsâmico do Outono.

Manhã de céu, manhã de mim,
o sol sorve o maná que deixei, o meu caminho,
meus passos mortos, meu mortal salto, meu vôo livre.

É Outono... venço!
Há viço e voracidade, em cada pena trocada, tocada pelo vento.
Há fio novo, de corte certeiro, de chuva de flechas. Há vida sobre os destroços
dos escudos quebrados, dos casulos rasgados.
É Outono... a cavalaria chega e fende o cerco cáustico do Verão.

O Sol me envia seus diplomatas, capitula, resgata a paz,
refém de um poço de sangue
que, novamente, bombeia.

O céu anuncia, em nuvens brancas,
seu maravilhoso retorno.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Moiras e bungee jump (High Cai)

Cada passo
toca

(o vão entre os pés mede palmos pra Morte, imenso corredor restrito à pele, desfluido, contrito, escorre a própria légua legada, chumbo nas solas de mercúrio, mesmo parado, anda, veloz, estático, frio e profundo, salto que leva de volta ao topo, costelas expostas, obsceno, estol, estio, sol que reluta na linha, atrasa, adia, incendeia o horizonte no atrito, engrenagem acesa e cáustica, tempestade nas nuvens de granito, abrigo de fogo, imolado, sacrífico, metade de um girassol carnívoro, inane, messias alquebrado e puído, não basta ao coração dos homens em sede de farsa, corromper pra salvar, saquear o que lhe é legítimo, da porta pra fora, existe, perambula, cai, e ninguém está lá, ninguém aqui, ninguém dentro de mim, da porta pra dentro, saí pra me procurar, pedaço aqui, ali, partes não formam mais todo, esboroado, víscera estanque, vida mímica, mínima, anímica, tortura para o já confesso, brinquedo de gato, camundongo do caminho longo, mais perto, mais perto, já quase, sorriso de dever cumprido, descanso em disfarce, já quase, já chega, invade e rebenta contra as retinas, chovendo pra dentro, despressurizado, liberto, mosaico expugnado, asperso, esparso, iluminado, prosaico, coisa, caio, saio, desapareço, ascendo)


o abismo.