sábado, 28 de julho de 2007

Ração


Antes de mais nada, faço isso por teimosia. Propósito eu não tenho, vontade, muito menos. Preencher, preencher e preencher, preencher todo o espaço. Nada me custa, nada me acrescenta, mas não está mais branco...maravilha, está ficando cheio! Palavras, umas ligadas às outras e todas ligadas a nada. Nem a mim. Não é mais branco, não é mais problema meu.

O vazio é fome. Eu lá sou alimento? Tenho, por um acaso, algo que ver com o que está vazio, com o que está faltando? Tome! Farte-se! Encha-se disso até empanzinar-se! Coma, coma, coma, sem sentir o gosto, sem pagar tributo de sabor à língua. Coma sem se nutrir, uma vez que não há metabolismo no vazio. Nenhum processo, reação ou absorção. Coma, vazio inútil, seqüela do que já foi vida, progresso, engenho e civilização. Come! Há de fazer bem o que come, muito embora não seja merecedor. Não adianta, nada adianta se não comer... não é fome o que o põe visível? Não é a única tarefa a que se propõe? Coma! A mim não mutila, menos ainda acalma. Ninguém se chateará ou interromperá o que está fazendo por conta disso. Favor? De jeito nenhum... nem caridade posso dizer que faço. Meu único motor, agora, é a teimosia de querer pratos limpos.

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