sexta-feira, 21 de abril de 2017
Um canto de consagração
Na palavra tenho meu refúgio,
minha casa lotada
de vivos e mortos.
Geralmente não festejo
o aterrissar de um poema -
antes, sinto como se pousasse
uma borboleta em seu último vôo.
Pego-a, delicadamente,
e a alfineto a um quadro.
Noutras vezes, o poema vem
como uma tempestade,
ou o ataque de um tigre.
Desses, quase sempre,
saio machucado.
Há poemas de amor,
há também sobre o tempo,
essas duas grandezas
irrefreáveis.
É na palavra que me sinto seguro,
mesmo com toda volatilidade,
mesmo com tantos caminhos obscuros.
Uso a palavra
pra me salvar da morte
e da vida.
O poema não me deixa afundar
ou me leva, de forma misteriosa,
ao que me é profundo.
Às portas do Inferno,
me espera um poeta,
com uma tocha
acesa na mão.
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