sexta-feira, 25 de abril de 2014

The Kiss

Peito contra peito,
Orfeu e Eurídice se tateiam
na escuridão das duas bocas,
dois infernos que colidem
em expansão.

O Tempo, aprisionado,
deixa de lado a foice,
algoz de nada,
amante da sombra
e do descanso.

Mãos cegas moldam
o barro dos rostos
colados,
mas não os unem.

Quatro olhos se abrem, e a luz
traz de volta o velho mundo.

O Tempo se libertou
e avançou pelas sombras.
Um coração bate acelerado,
o outro é tragado, num átimo,
de volta ao abismo.

Ninguém é testemunha,
quando Sísifo enxuga da testa
as lágrimas do homem
que despenca.

Costas contra costas,
só um de nós dois concebe
o presente
como um presente.





The Kiss, Edward Munch

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