sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Nihilema

As primitivas vogais
guturam
do ar alto e aberto
à furna profunda e escura
e minha voz não está com elas.

Transitam, solertes,
consoantes várias,
umas diretas, esmurrantes,
aríetes contra o silêncio,
outras ressentidas, magoadas,
temerosas diante do mar
e do infinito.

Há ainda as que estalam, as que sussurram,
ninfas de som, escondidas e risonhas
nos intervalos e meandros da palavra.

Há, porém, em minha voz,
um som que ninguém jamais ouviu.
Um som não catalogado, não grafado,
que a ninguém estimula, e que morrerá comigo.

Um som que veio antes de tudo, junto com o Verbo,
e que se refugiou em mim, fugindo da Luz.
Um som que protejo com a vida, e que pulsa,
quando ninguém está por perto,
e que é capaz de milagres,
que se transubstancia e transfigura,
que vai morrer de velho e de sábio,
tendo escapado da estrela
e da cruz.

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