Faz, sei lá, sete anos que este blog existe, e eu nunca havia cogitado postar algo de outra autoria aqui. Mas arrematei este quadro, profundo e exato auto-retrato meu, pintado pela mão da maior poetisa viva que conheço, e que agora exponho na acarpetada parede carmesim deste labirinto.
Eu não sei por que te amo.
Acho que por uma dessas belezas tão cruéis quanto incalculáveis
(As que nomeiam as genialidades das estrelas).
Deus colocou sua mão de ouro em minha carne e todos os ecumenismos nasceram de meu ventre. Porque te amo.
Não sei ainda por que meu coração bate na língua de uma criança ou na espinha dorsal de uma orquestra quando penso que te amo.
Não sei por que o esquecimento não me adormece aos sábados.
Nem por que minha sombra dança tambores quando me aprisiona a rotina e lembro que te amo.
Eu não sei por que não me morre esse fragmento de vida insolúvel, que é amar-te.
Nem por que não me envelhecem meninos, nessa festa infinita que é meu rosto a poucos centímetros dos teus abismos.
Só sei que te amo, apenas e apesar. Desde então, todo o inexplicável repousa no colo das mães e dos dias.
Não sei quando molho a terra com tua sede ou quando apaziguo soldados com tua fúria de homem.
Nem mesmo quando desescrevo diários ou desinvento futuros por teu egoísmo, a quem escolhi chamar esperança.
Desesperam-me auroras, desencorajam-me flores e outras fêmeas perturbações sacerdotisam minha espera.
Não sei por que te amo.
Por que não me perdoo por um orvalho, uma Lua, um girassol.
Por que me condenei a assentar séculos sob a memória de instantes – como Orixás e seus códigos.
Não sei por que te amo,
Mas sei que verbos me doam e galáxias me assombram em teu nome.
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4 comentários:
Amigo, "maior poetisa viva que conheço" é o maior elogio que já recebi. Com você aprendi a ter coragem de mostrar o que escrevo. Obrigada por tudo!
Eu não sei se você chorou ao escrever isso. Eu ainda não parei.
Escrevi pra parar de chorar.
Meu retrato de Dorian Gray. Eu olhei.
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