sexta-feira, 13 de junho de 2014
A face real
O espelho é o melhor amigo do homem. Mais fiel que o cão, mais acolhedor que a mãe, mais pontual que o sol e mais sincero que a verdade. É através dele que despimos as máscaras, que descobrimos cicatrizes, feridas e marcas do tempo, dos excessos e também das faltas. Um espelho nunca mente, nunca exagera, nunca poupa e nunca distrai. Somente o espelho é capaz de dizer, sem rodeios, aquilo que é preferível não ouvir, ou o que seria melhor não enxergar. Ele não deixa possibilidade de fuga ou dúvida, nem oferece alternativas à realidade. É o espelho linear, opositor, cristalino, quem tira o homem de nirvanas etéreos e o traz de volta ao apocalipse bruto e cruel de sua condição. Os homens deveriam adorar os espelhos, como fazem com deuses e heróis. Adorar por, em sua lucidez de lâmina fria, dimensionar a nudez fatídica de quem quer que vá até eles, afugentando o medo e a ilusão de que nenhum de nós está sozinho.
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