Orfeu e Eurídice se tateiam
na escuridão das duas bocas,
dois infernos que colidem
em expansão.
O Tempo, aprisionado,
deixa de lado a foice,
algoz de nada,
amante da sombra
e do descanso.
Mãos cegas moldam
o barro dos rostos
colados,
mas não os unem.
Quatro olhos se abrem, e a luz
traz de volta o velho mundo.
O Tempo se libertou
e avançou pelas sombras.
Um coração bate acelerado,
o outro é tragado, num átimo,
de volta ao abismo.
Ninguém é testemunha,
quando Sísifo enxuga da testa
as lágrimas do homem
que despenca.
Costas contra costas,
só um de nós dois concebe
o presente
como um presente.
The Kiss, Edward Munch
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