Tive contato com minhas duas avós (com a materna mais que com a paterna – não sei se é regra, mas sempre há uma avó preterida, ou mais distante que a outra). Minha avó paterna tinha nome de ópera, mas não era tosca (poucos risos, por caridade). Escrevia poemas, fazia doces e dividia meu avô com umas 4 ou 5 mulheres da cidade (além de ter substituído a irmã, como esposa de meu avô, quando esta morreu). Nas últimas visitas, sempre me chamava ao quarto e me dava dinheiro ‘pra comprar balas, que Deus faça de você um homem de bem’.
Minha avó materna era o catiço: tinha nome de cocotte francesa, destratava os empregados e as visitas, mijava pernas abaixo, quando havia tempestades, mantinha um corte de cabelo hendrixiano, recebia entidades de Umbanda e me ensinou a gostar de tangos, seresta e quase todo tipo de comida gorda, mormente massas. Tenho uma saudade enorme dela, uma das poucas pessoas de minha família capaz de catarses imprevisíveis.
Eu me lembro de várias anedotas que ela protagonizara, mas a que me vem à mente, de imediato, ocorreu quando eu lhe perguntei, muito menino, o que eram hemorróidas. Ela, de perna cruzada, sentada na varanda do sítio, tragou lindamente seu Free (fumava com classe de cocotte francesa) e respondeu, olhando pro infinito:
Hemorróidas são varizes no cu.
No dia em que eu destruir minha cidade (derramando indutor de cio nos reservatórios e explodindo, sincronicamente, os postos de gasolina), eu tenho certeza de que me lembrarei dela.
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