sábado, 18 de agosto de 2007

Centro cardeal




Apesar do dia ensolarado lá fora, o blues que toca aqui nas caixas está mais pra mim, assim como o sol lá fora está pros lagartos.

Crossroads, numa versão acústica e instrumental que um amigo gravou. Está em Ré e em Ré acompanho com a gaita algumas frases. Crossroads. As encruzilhadas, aneurismas na estrada, em que o sangue pára seu fluir e se pergunta: por qual caminho?

Nessas horas de encruza, de cessar de passos para não descansar, fico pregado à cruz, relógio parado aguardando corda, corda pendente aguardando pescoço, pescoço cancelado aguardando o grito...


Diabo! Vem buscar minha alma!


Mas o Diabo não existe pra mim. A coisa mais perto dele que concebo sou eu em incorretas horas, em horas pregadas às tábuas sem salvação e sem mandamentos.Sem andamento, semana aumenta o cansaço e o puir das fibras, prenunciando o arrebentar da corda e o âmbar cristalizado das palavras a catapultar-se da boca.Seja qual for o caminho, seja qual for o destino que meus pés de elefante velho escolherem, haverá fossos, muros e sítio, testes ao peso do corpo, ao poder das patas, à pureza e acuidade dos marfins.

Haverá o derradeiro blues, o blues do patíbulo, calvária melodia que acompanha o fel manjar do que está suspenso.



O Diabo, se existisse, estaria agora vestido em branca túnica.
Gravura de Escher: Crossroads

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