sábado, 4 de fevereiro de 2017

Esfinge


À sombra de teu rosto,
o universo se abria,
numa flor translúcida
de infinitas pétalas.

Tudo era penumbra,
quando erguias o rosto
e afrontavas as chamas,
pequenas e tremeluzentes.

Teu rosto era um martelo suave,
um machado leve, uma espada,
e cortavas a luz
e o silêncio.

Não falavas, toda eloquência
vinha de teu rosto,
de teus olhos atrevidos,
de teu queixo abusado.

Eras a figura de proa do abismo.
Cataclismo, intempérie,
revoada em busca da primavera,
lançando sombras sobre o outono.

Tu eras a nudez do desejo,
eras a fria fronte de uma estátua
a que o tempo não escarvou,
eras um pavão fotografado.

E eu roçava tua pele com os olhos,
e, com os dedos, te adivinhava,
e alisava teus cabelos,
como quem desnuda a via-láctea.