domingo, 27 de janeiro de 2008

Balada Absoluta


Homem
que mira à frente,
em cujo sangue correm
desembestados
os cavalos... todos eles.

Alma povoada de pólvora, sacrifício
e o calor depois das chuvas.
Corpo insone e voraz-
olhar de pântano, mãos conjugadas do carrasco e do mártir,
tripas de sal, secura de amor bravio, enfuna no peito o ar espiralado das pipas que encontraram seu fio mortal.
A obra não termina, a fabulosa jornada selada nas pupilas e entre os dedos.
Senhor dos caminhos e martelo dos obstáculos, segue e se agiganta a cada passo... impulsiona novamente o mundo.
Apruma tempo e espaço nos moldes dos músculos.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Curinga de Copas


Ao final... sobra-te o riso,
sobram-te espaços, papelada e mapas (que a Terra desatualizou).

Ao final...

sobra-te.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Hieroglifo


Retorna ao fundo
o elemento,
núcleo fechado.

Orbita as horas -
transita, inoperante,
um círculo reticente.

Ídolo perdido
entre musgos,
deus esquecido...

aguarda o estrépito
que está escrito.
"Broken Idol at Copan", Frederik Catherwood

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Página arrancada


No fundo dos olhos,
impressa
a imagem rápida da ventania.

Blocos surdos,
poses tortas...
vazio que alimenta o oco.

Perdido, após o brilho-
buscando latitudes no Sol.

"Não há nada a temer"
Me diz o irmão que não tive.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Salmo I


Absorção
de mucos e nêspera
na espera, na música,
no suco.

Bebe, e lambe o que bebe...
sabor por sabor em conta-gotas.

Aspereza...
óleo santo que destila
ao novo ritmo-
nova liturgia
que ecoa nas paredes
do templo antigo.

Canta, e lambe o que canta...
notas esparsas- claves
chovidas nos cantos
da boca.
Portrait with Red Berries, James C. Christensen