quinta-feira, 28 de junho de 2007

Uns olhinhos


Vida. Surpresa atrás de surpresa.

Detrás da primeira surpresa, certa vez, surgiu uma outra, com uma ternura serelepe de quem vê o mundo pela primeira vez. Uns olhinhos muito abertos, um queixo colado a ombros esguios que não os deles, mas também deles. Prescutadores olhinhos, a tudo atentos, a tudo antenas, grandes olhinhos muito imitadores e divertidos que, por essas virtudes, de cara, me conquistaram.

Tais olhinhos que enxergam e sentem longe, eu tive oportunidade de olhar e enxergar de perto, sem vidros ou distâncias impossibilitadoras.

Uma troca de olhares primeiros é uma conversa muito eloqüente para olhinhos e olhões que sentem e que enxergam aquilo que está pisado no chão e no chão que ainda vai. Sim, eles sabem que o chão também anda pelas próprias pernas e conseguem se entusiasmar com isso, com o ensaio de dança que acontece quando o salão está vazio... estão um passo à frente do passo e a isso não resistem, desenham corações coloridos nas janelas, dão cor ao que não tem cor, àquilo que a luz, sem resistência, atravessa. São olhos que tudo vêem e olhos que vêem o nada. Passam a cantar, então, aproveitando-se do eco, o som não pronunciado por ninguém, para espalharem orações banais pelo vazio labirintado de paredes.

Uns olhinhos... umas mínimas galáxias livres de entropia, tragando o desconhecido com familiaridade e festa, fáceis em derrubar muros e construir pontes, operários e demolidores, acertados com aquilo que parece erro a olhos inchados de miopia.

Eu estive perto dos olhinhos, até na hora de ir embora, de correr e deixar que o elástico me puxasse de volta. Eu não pude voltar meus olhões... não pude voltar meus olhos para aquelas pequeninas dádivas redondinhas e vitais, para que se despedissem ou ainda, para que se pedissem... resta, a mim, uma dúvida quadrada e vitral.


Olhinhos que tens olhos para Anjos e para Grilos... sinto, também, ausência

domingo, 3 de junho de 2007

Serviço de quarto


Tão entulhado de nada, desceu da cama e milimetrou o quarto à procura do que largara antes de dormir. Nada em cima da cômoda, nada pendurado na porta do guarda-roupas nem na maçaneta da porta. Nada embaixo da cama, nada camuflando o controle da TV e o celular.
Tudo entulhado de nada, já não era manhã, ainda não era tarde, ainda não era dia. Nada a fazer quanto àquele dia. Dias têm disso, surgem já predispostos, milimetrados por camareiras atentas, antes da hora de acordar.
O inesperado é tão supérfluo quanto rotas são fundamentais.
Galos cantam, sombras escorrem, o tiro é dado e tudo isso é som de klacket.
Nada entulha nada.
Kitchen Maid (Vermeer)